Era claro: estava a querer acolitar-se. Acho que terá sido a única modalidade que julgou naquele dado (como em oferecido) momento viável. Usando a capacidade que alguns têm de ver enquanto olham quase exclusivamente para um ponto, eu assistia à sessão (uma première) sem que ele soubesse do débito de frames que descabidamente, e em ritmo pastoso, produzia.
Tolerei tudo aquilo - porque JM me consumia na medida certa (e é dificílimo conseguir conjugar a tal medida com a avidez)- até pararmos na segunda e penúltima estação. O abuso encorpou-se, ele tinha a boca cheia de letras, e depois de palavras, e depois não conteve a frase: Almas são imateriais, e V., permita-me, é demasiado imperial e imperiosa. Creio que ainda ponderei se seria evitável a resposta, enquanto cruzava as pernas, mas JM foi contundente e assertivo. Servi-lhe, da página 119, com orgulho e altivez e dicção irrepreensível (não havia outra forma), a passagem que continha (justamente) o arrumo daquela situação; e posso jurar, de mãos e pés muito juntos, que o assombrei: ruborizou e, sem pedir licença, foi prosseguir caminho ao fundo da carruagem.